28/07/2013

Paranóia 2.0


Você realmente sabe com quem se relaciona? Eu digo, de modo geral, desde o relacionamento profissional e pessoal. Talvez você responda um peremptório "sim", mas ainda assim duvidarei de sua austera resposta, pois a probabilidade de você já ter desconfiado da mais próxima pessoa é muito grande. Mas e quando você começa a desconfiar continuadamente da mesma pessoa? E de todas ao seu redor? E se "confiança" for uma palavra sem sentido ou que você nem sabia que ainda era usada? 
Bom, minha cara leitora (ou leitor), eu poderia dizer que você está paranóica (ou paranóico). 

Segundo o site sobre Psiquiatria Geral, paranóia é um termo utilizado por especialistas em saúde mental para descrever desconfiança ou suspeita altamente exagerada ou injustificada. Todavia, ainda segundo o mesmo site, desconfiança não é paranóia, especialmente se fundamentada (isso é MUITO importante) em experiência passada ou em expectativas baseadas na experiência alheia. 
E então você, talvez subitamente, se pergunta: o que tem a ver paranóia com este blog de tecnologia? Bom, se "antes" era fácil entrar num estado semelhante ao de distúrbio de paranóide de personalidade somente pelos sussurros alheios, "sorrisos de Capitu" e soslaios dos mais suspeitos, potencialize isso com SMSs, Whatsapp, contas de email e facebook, por exemplo (estes dois últimos talvez façam mais sentido para casais). 

Alguém, recentemente, virou para mim e disse (algo parecido): as doenças da mente são as reais doenças desse milênio. Fora a dicotomia implícita que me inquieta em frases como essa, eu tive de concordar com o interlocutor que me falha memória. E então essa frase vem repetidamente reverberando em mim, pois além de "outras doenças da mente" que presencio diariamente, a paranóia social é a mais evidente - e em larga escala. Eu sempre procurei moldar meu "modus operandi" sobre evidências, logo coisas como "teorias da conspiração" e factóides especulativos (a redundância foi proposital) nunca me interessaram - exceto para me divertir a custa dos outros. 



No entanto, quando se começa a perceber que essa "doença do século XXI" salta de um surto para uma endemia (epidemia está além do meu campo de análise), e que você pode estar envolto por gente com essa enfermidade, a coisa deixa de ser algo que só se ver na TV ou no cinema. 
Vejamos se você, leitora (ou leitor), consegue se identificar com algumas coisas que irei listar abaixo ou se você consegue identificar outrem que conheces. Existem três principais categorias de paranóias: distúrbio paranóide de personalidade (já citado antes), distúrbio delirante paranóide e esquizofrenia paranóide.


O primeiro tipo talvez seja o mais comum. Uma das características é a desconfiança sem motivo (sem evidências - lembra-se do "isso é MUITO importante" no início do post?) e em tal intensidade que pode-se degradar significativamente a vida pessoal e profissional do indivíduo. Quantas pessoas você conhece que, pelo simples fato de você enviar um SMS para outra pessoa ou estar no Whatsapp com outrem (embora extremamente deselegante) acham que estás a mancomunar algo ou a trai-lo (aqui, o sentindo não é somente conjugal). Ou pior, há casais que desconfiam um do outro pelo simples fato de, mutuamente, um não dar a senha para o outro dos respectivos emails - fica até ridículo quando escrevo. Para atiçar a mente de alguns eu provoco: o que será que ela tanto conversa no Facebook e por que ele configurou os posts do Facebook para não aparecerem diretamente na Timeline? Divirtam-se. ;)





O segundo distúrbio vai para um nível mais alarmante, mas ainda não se restringe a indivíduos que realmente carregam a patologia - eu acho. Pessoas com esse tipo de distúrbio possuem "delírios constantes e não bizarros". Por exemplo: delírio de perseguição e o delírio do ciúmes. Este último é absurdamente comum e assustador - tanto que chega ser engraçado. 
Talvez você conheça alguém que seja extremamente cimento e controlador que não deixa o outro dar um passo sequer sozinho sem localização GPS ou um relatório completo do itinerário percorrido (ou a ser traçado) e quem mais estaria envolvido - isso tudo, ainda, para ser analisado. Ou de maneira mais singela, e sem esse controle todo, a pessoa sempre acha que você está traindo-a de alguma maneira. Mais uma vez, pitoresco.
O da perseguição é mais estereotipado em filmes. Mas eu trago para algo mais real: aquele sentimento (egocêntrico, na minha visão) de que todos estão falando mal do indivíduo. Então este muda completamente seu comportamento, afastando-se daqueles que ele acha que estão conspirando contra e acaba destruindo os laços sociais. Familiar? Espero, realmente, que não. 

O terceiro e último distúrbio, para não me delongar mais, é o pior. Indivíduos acomedidos por esse distúrbio possuem "delírios altamente bizarros ou alucinações, quase sempre sobre um determinado assunto; costumam ouvir vozes que os outros não ouvem ou acham que seus pensamentos estão sendo controlados ou propagados em voz alta." Não sei porque, extremistas "sobrenaturais" me veem logo a mente. Se você conhece alguém nesse estado (agora é sério), procure orientá-lo a um tratamento especializado. 

Já tinha um tempo que eu queria escrever sobre isso. Percebo em diferentes pessoas que conheço (e correlatas) muitas das caraterísticas aqui descritas - em algumas, assustadoramente, aguçadas. E quando percebo padrões em tudo isso, para mais e mais pessoas completamente díspares umas das outras, começo achar que Paranóia, ou características dessa doença, tornou-se parte do dia-a-dia.
E o interessante é que, provavelmente, todos nós, inclusive este que vos escreve, possuam algumas das características aqui apresentadas - espero que ninguém aqui esteja no terceiro nível, hein? Mas não se preocupe. O fato de possuir algumas dessas características não o faz paranóico - mas acho que extremamente desconfiado e especulativo. Assim como características depressivas não o faz um depressivo patológico. 

Não obstante, todo cuidado é pouco. 





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