05/08/2012

"Abençoados sejam os esquecidos"


Assim acende o (ótimo e raro) filme "Eternal sunshine of Spotless mind", estrelado por Jim Carrey e Kate Winslet. Não é a primeira vez que assisto (talvez a terceira vez), mas foi a primeira que me fez refletir mais profundamente: felizes aqueles que comem muito queijo ou os elefantes que são bons?

O filme é ótimo - para quem gosta do gênero, claro. Um dos raros filmes de drama de Jim Carrey, mostra que ele não é bom somente em caretas dignas do "The Mask" ou do engraçadíssimo "Bruce Almighty". E ainda é daqueles enredos atemporais que faz você viajar, juntar as linhas do tempo e "desvendar" a seu próprio modo o que o filme quis dizer. 

Para quem não assistiu ainda, o filme trata sobre a vida monótona de Joel Barish (Jim Carrey) que muda radicalmente quando conhece (e se apaixona pela) a excêntrica Clementine (Kate Winslet) e forma um casal pitoresco e feliz, ao modo deles. Só que "algo" (depois que é descoberto, já que é um filme sem linha de tempo definida) acontece que Clementine decide apagar ("cirurgicamente") Joel de sua memória. Joel descobre isso e também decide fazer a mesma coisa e o filme se passa através de suas memórias sobre Clementine (que vai sendo varrida da mente de Joel) e suas reflexões sobre elas. É muito doido e muito bom. Recomendo bastante.

Mas, ao meu "próprio modo", o filme vai mais além e discute se é melhor viver sem sofrimento de mágoas passadas ou viver e conviver as tristes lembranças da vida. O foco principal é de amores perdidos, mas em uma cena do filme, são mostradas coisas secundárias (que poderiam ser muito bem o foco do filme) como a morte do cão de estimação ou o campeonato de futebol perdido. 
Apesar de Joel e Clementine tentarem apagar um ao outro de suas lembranças, eles continuaram a se encontrar e tentar novamente, mesmo sem saberem. A tese do filme é que não basta simplesmente apagar alguém da sua vida que esta continuará trazendo essas pessoas de volta para você tentar de novo. Não vou entrar nessa parte romântica, pois não é meu forte.
Falarei se é "melhor" esquecer as mágoas e as lembranças tristes e seguir vivendo ou tê-las sempre em mente e aprender com elas, mesmo que estas machuquem tanto quanto quando aconteceram. Prefiro, e muito, a segunda opção. Ignorância é um benção? Somente para aqueles que não suportam a realidade e a verdade. 
Lembranças felizes são como lembretes de que sua vida, em algum ponto, fez sentido ou valeu a pena. Lembranças tristes mostram as merdas que você fez ou fizeram com você e vão te ensinar a não tornar momentos tão dolorosos em realidade novamente - e mostrar como (realmente) as pessoas são. 
Como já disse um certo profeta: a mágoa e o rancor são os melhores mecanismos para preservar as memórias que mais ensinam.

Ah, e se você simplesmente quer assistir um bom filme e não quer reflertir sobre nada, ainda assim vale a pena. Seguindo nessa linha, recomendo outros filmes dramáticos de Jim Carrey, como "The Majestic" e "The Truman Show"

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