19/08/2013

A subversão da subversão da inovação.

A INFO deste mês veio boa. Folheando-a vi boas reportagens (como há algum tempo não via) e alguns bons temas de artigos. Despretensiosamente, na primeira folheada, passei com muito desleixo sobre as duas entrevistas resultantes do INFO Trends 2013, que aconteceu no último 2 de agosto em São Paulo, no WTC. As duas são do Hugo Barra, vice-presidente do Google, e a outra do, desconhecido (para mim), Wesley Barbosa, executivo de negócios do Baidu (é o Google da China e está vindo para o Brasil). 
Parti logo para ler a do Hugo, não por ser a primeira reportagem na sequência, mas por saber quem ele é. Reportagem comum, meramente "Google Ads". Então eu pensei: se a do Hugo foi assim, o que dirá desse Barbosa.

Eu estava enganado.



Logo no início da reportagem, Felipe Zmoginski (o autor), pergunta: "Será que para inovar é preciso pensar fora da caixa?" Eu quase pulei o parágrafo, pois minha mente já pressupôs a resposta padrão do hype de "pensar fora da caixa". Mas quando li a resposta, vi que estava MUITO enganado sobre a reportagem e Wesley Barbosa. Vamos a resposta dele sobre a pergunta acima:


E a minha reação foi:


O cara largou! Segundo Barbosa, que só tem 27 anos e já é executivo do Baidu (sou um fu%$@* mesmo), é bom pensar fora da caixa, mas "A caixa é o lugar onde encontramos produtos reais, que podem ser modificados para dar origem a soluções inovadoras". Meu caro leitor ou leitora, para mim, o cara debulhou só na resposta! Logo em seguida fui procurá-lo (e já estou seguindo-o) no Twitter e sua breve descrição já começa assim: Inside the box innovator 'n troublemaker. Está explicado?
Mas o melhor não foi a resposta dele "de dentro da caixa" (seguidores cegos do "pensar fora da caixa" vão me odiar), foi o resto da reportagem. 

Wesley diz que é possível seguir métodos preestabelecidos para criar produtos inovadores. São eles: Subtração, Divisão, Multiplicação, Unificação e Dependência. Falarei somente do primeiro, pois foi o que mais me chamou a atenção, embora os demais sejam bastante interessantes também (e deixar para você procurar a revista para não quebrar toda a reportagem do sr. Zmoginski). 

O primeiro método (a Subtração), o mais comum (segundo Barbosa), é identificar funções em produtos existentes que podem ser extintas, tornando-os mais simples, baratos e funcionais. Ele deu exemplo dos fones de ouvido que surgiram da retirada das conchas acústicas dos headphones e a criação do iPod Touch, "um iPhone que não faz ligações" (que vendeu 60 milhões de unidades). Assim que terminei de ler isso, eis a minha reação:


Parece que há esperanças para pessoas como eu. Me senti um inovador, a minha e a maneira "subversiva do subversivo" de Barbosa. A primeira coisa que me veio a mente foi um dos mantras da 37Signals em seu livro, REWORK: Less is More. Ou ainda: Underdo the competition
Algumas pessoas tem a falsa sensação de que um produto é melhor que outro por ter mais features. Não é assim! Se um produto A tem menos features que o produto B, mas são todas realmente importantes e utilizadas do que as existentes em B, para que ter mais que este? Faça mais com menos! Sinceramente, o mercado está achincalhado de produtos inflados e, muitas vezes, inúteis. É como ter um canivete suíço que você mal usa a faca. Penso que temos de idealizar produtos que possuam as características mais importantes (não confunda com essenciais) para atender a uma determinada necessidade. Me parece tão claro e simples, que me assusta ser tão complicado para outrem. Acho que me falta muita maturidade e vivência para convencer as pessoas ao meu redor.

Ante de terminar é bom deixar claro que essa questão de dentro ou fora da caixa é um problema linguístico. Penso que quando alguém cunhou esse bordão, idealizou a caixa com o "mundinho" que vivemos todos os dias, nos aprisionando, quadrado (antiquado), fazendo-nos pensar sempre do mesmo jeito. O agravante é que tem gente que toma bordões como esse e o propagandeiam sem nem pensar direito sobre ele mesmo, inflando-o de sobremaneira que ninguém mais sabe o que realmente ele quer dizer e o "fora da caixa" se torna o "dentro" de outra caixa maior ainda. Não imagino qual o sentido que o sr. Wesley quis atacar quando se auto-colocou dentro da ("velha") caixa, mas o fez muito bem. 

Dentro ou fora da caixa, bolha, mundo ou seja lá a metáfora usada, o importante é que temos de pensar diferente. Quando for preciso. Não somente por fazê-lo. 

Ps.: Para quem ainda não se acostumou com o linguajar computação-baianês, vamos esclarecer:
Largar: responder de maneira incisiva, quiçá, disruptiva e contrária a algo ou alguém.
Debulhar: fazer algo muito bem ou ser muito bom em alguma coisa.

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