Há algum tempo o Blog do Maomé acumula poeira (o último post foi no dia 06/10/2012). Deixei-o para sempre? Não, nem por um momento isso me passou pela cabeça. Falta de tempo? Talvez, mas não é desculpa.
A questão toda é: não sou um "escritor" "industrial". Não escrevo por escrever com fim de ter mais acessos ou pelo simples fato de ter algo no blog para não perder audiência. Gosto de escrever, mas somente pelo que me interessa ou que me instiga a rabiscar alguma coisa. E por isso, não escrevo há algum tempo - nem notícias recentes da Apple me instigaram.
Esse post é exatamente sobre isso: quando vale a pena escrever e a "hora certa" de fazê-lo.
Obviamente não há regra para isso. A percepção de cada um é que vai dizer quando vale a pena escrever sobre algo. Pode ser uma frivolidade para um ou uma importante notícia para outro. Mas a hora certa, embora também não tenha regra para tal, é possível detectar. De que adianta escrever sobre algo muito bacana que "foi notícia" há mais de um mês atrás? "Todo mundo" já falou sobre aquilo e já faz parte do passado.
Um mês é demais. Coisas de um dia ou dois atrás (os exagerados - ou não - dirão que ontem é tempo demais) já não "servem" mais para serem debatidas ou discutidas. Neste mundo de flood de informações, a "janela de importância" surge tão rapidamente quanto some. Se o timing for perdido, provavelmente você será recebido com algum grasno ou desdenho e um rótulo de atrasado. Mas me arriscarei a isso agora.
No último dia 29, morreu o jornalista Joelmir Beting. Joelmir sofreu um, raramente citado na mídia, AVE (Acidente Vascular Encefálico) que o levou ao coma irreversível e a, triste, conseguinte morte. Mas o risco que corro agora por falar de "notícia velha" não é para falar da morte desde grande jornalista. Mas para falar de parte de sua vida.
Joelmir era um dos principais motivos de eu assistir ao (muito bom) Jornal da Band. Suas participações eram sempre breves, mas inversamente sagazes e, minha parte preferida, inundadas de sabedoria, ironia e sarcasmos únicos. Era incrível como ele discutia e criticava ao mesmo tempo assuntos tão extensos em poucas palavras. E na quinta-feira que soube de seu falecimento, fiquei genuinamente triste. O Jornal da Band jamais será o mesmo sem Joelmir.
Mauro Beting, igualmente sagaz e de ironia inegável e geneticamente passada por Joelmir, mostrou de quem era filho. Recebeu a notícia da morte de seu pai enquanto trabalhava na rádio e leu um carta de emoção inigualável que conseguiu arrancar lágrimas deste profeta. Parte dela dizia:
Ele me ensinou tantas coisas que eu não sei. Uma que ficou é que nem todas as palavras precisam ser ditas. Devem ser apenas pensadas. Quem fala o que pensa não pensa no que fala. Quem sente o que fala nem precisa dizer.
Este profeta retorna para suas escritas, atrasadas ou não (e como perceberam, pouco me importei com isso) com esta pequena homenagem a Joelmir Beting e ao seu fortíssimo filho Mauro. Quem me conhece sabe que não acredito em céus, infernos ou em vida eterna.
Contudo, Joelmir viverá eternamente. Na história do país e do jornalismo. Nas lembranças das pessoas que mais o admiram, que gostam dele, que o amam.
E isso, caros leitores, é a verdadeira eternidade. A que realmente importa.
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