Máquina do tempo para quê? Se você mora no litoral de algum estado do Nordeste e pode viajar para bem (em alguns nem precisa ir tão longe) ao interior de seu estado, seu carro ou o transporte intermunicipal (clandestino ou não) é a sua máquina do tempo. Já viajei bastante por este país, mas as viagens (mesmo repetidas) para o interior da Bahia não me cansam de me fascinar. A discrepância entre meros 300km de uma capital podem fazer você ver como as pessoas vivem nos anos 70 em 2012.
Viajei para Monte Santo, Bahia (somente reiterando) - local. Num rapidíssimo apanhado, Monte Santo é importante personagem da história do Brasil. A cidade serviu de base de operações para o exército brasileiro na Guerra de Canudos. Além disso, como o nome da cidade sugere, ela tem uma monte que possui escadarias, capelas e igrejas e atrai anualmente milhares de pessoas para romarias. Mas este post não é sobre a bela história e a importância de Monte Santo (embora a cidade mereça), mas sobre uma cidade (dentre várias outras) que fica num dos "buracos de minhoca tecnológicos " do sertão baiano.
Não é preciso ir muito longe para ver discrepâncias entre a capital baiana (uma das sedes da Copa de 2014) e o interior da Bahia. Feira de Santana, e não falo somente das periferias ou áreas rurais, mostra essas ilhas de retrocesso e esquecimento tecnológico. Todavia, mais para o interior, é incrível (na mais essencial acepção da palavra) como as coisas mudam. Comecemos pelas "cidades" de beira de estrada. Os dois principais canais de comunicação com o mundo é a TV e o rádio. Internet? É possível que poucos façam ideia real do que é isso ou algumas delas sobrevivem na parca rede EDGE (3G pode até virar piada de duplo sentido). Smartfone? Não posso dizer que é inexistente ou desconhecido, mas celulares no estilo "Nokia 200" predominam. E assim foi durante toda viagem. Não pasmem ou achem que estou exagerando, quando digo que TV é o melhor que eles podem conseguir ou tão pouco energia elétrica - é muito sério! Essa transição é interessante, pois não é uma regressão linear. Durante a viagem, a discrepância vai aumentando a medida que as cidades diminuem e a distância aumenta. Mas a partir de certo ponto, quando a variável do tamanho da cidade atua (as cidades aumentam), não parece ser tão diferente assim. Somente parece.
Ao chegar em Monte Santo, que eu já conhecia, percebi de uma nova perspectiva como as coisas são. A cidade (e região, isso inclui a "gigante" cidade Euclides da Cunha e a não tão grande Cansanção) sofrem dos mesmos males (tecnológicos): operadoras de celular sem sinal, internet a rádio como melhor opção e 3G ainda soa como uma sigla para nerds - e daí eu lembrei que algumas ilhas em Feira de Santana não muito diferentes. De maneira espetacular, a TIM pega muito bem e a Oi tem sinal zero! Há dois ou três provedores de internet via rádio (com uma velocidade até legal de 1Mbps) e só. Se a Oi não tem nem sinal, preciso falar alguma coisa sobre 3G ou ADSL? Penso que seja desnecessário.
Como esse país está pensando em 4G até 2014 (para a "bendita" copa) se ainda existem milhares de kilômetros quadrados sem sinal de celular e sem energia elétrica? Como pensar em escolher entre LTE e WiMax, se a rede 3G é um lixo onde tem cobertura e em boa parte do país, a população não ver a cor disso? Até a Vivo que tem a maior cobertura de celular (e melhor sinal e velocidade de conexão) não consegue alcançar. É ridículo! E não me venha com o cansado e vazio argumento de que o Brasil é um "país continental": essa é uma puída desculpa para a incompetência das autoridades e uma maneira de acobertar a segregação entre o "rico" (litoral) e o miserável ("interior").
Quando um morador regular do interior da Bahia, Ceará ou Paraíba, distante da capital há, pelo menos, 200 km de distância , puder assistir a um jogo da copa por streaming, acenem que eu subo a bordo novamente.
Enquanto isso, eles escolhem um vídeo no YouTube (se é que podem acessá-lo), vão jantar e retornam para assisti-lo posteriormente.
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